Violência escolar: Realengo

Violência escolar: o que aprender com o caso de Realengo?

O tema não é confortável, porém, necessário ao entendimento sobre o que é preciso fazer para evitar ou, ao menos, diminuir, a incidência da ameaça no ambiente da escola

As pessoas costumam não se sentir à vontade quando o tema é violência. Ainda mais se tratarmos deste mesmo assunto no ambiente escolar, em que muitos de nós confiamos a segurança de nossos filhos. Mas como viver tranquilo com tantos casos de violência nas escolas?

Neste mês de fevereiro, iniciaremos uma série de matérias focadas nos principais crimes em escolas ao redor do mundo, com a opinião e dicas de diversos especialistas sobre cada um deles para que possamos, com base no conhecimento, ajudar a diminuir estes casos. O primeiro deles será o caso de Realengo, no Rio de Janeiro (RJ), em abril de 2011.

Sobre a violência no Brasil

Antes de entendermos o caso em questão, é preciso olhar um pouco para o retrato da violência no País. A última edição divulgada, em 2015, do Mapa da Violência, do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, mostra que os homicídios representam quase metade das causas de mortes dos jovens de 16 e 17. No estudo, o especialista tratou sobre a mortalidade com suas causas externas, remetidas a fatores independentes do organismo humano, acidentais (mortes no trânsito, quedas fatais, etc.) e violentas (homicídios, suicídios, etc.). 

Segundo ele, “as causas externas de mortalidade vêm crescendo de forma assustadora nas últimas décadas: se, em 1980, representavam 6,7% do total de óbitos na faixa de 0 a 19 anos de idade, em 2013 a participação elevou-se de forma preocupante e atingiu o patamar de 29%”, constatou no estudo linkado acima.

Ele ainda relaciona que entre 1980 e 2013, estas causas externas de mortalidade aumentaram drasticamente com os homicídios, que passaram de 0,7% para 13,9%.

Já no estudo mais recente A violência escolar e a elevação da criminalidade, consta que, no Atlas da Violência, produzido pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômico Aplicada), junto com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FCSP), em 2017 foram mais de 62.500 homicídios, média de 30,3 casos para aproximadamente 100 mil habitantes. Além disso, afirmou que nos últimos dez anos, 553 mil pessoas perderam suas vidas devido à violência intencional no Brasil. Deste total, 72,5% foram cometidos por armas de fogo. 

Os dados do instituto ainda apresentam algo mais preocupante: o maior índice de homicídio está entre os jovens, de 15 a 29, com aumento 30 vezes maior, representando, 153 mortes por dia. 

Massacre em Realengo

Para relembrar a chacina: Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, entrou na Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, no Rio de Janeiro (RJ), no dia 7 de abril de 2011, por volta das 8h30, armado com dois revólveres, disparando contra os todos. O resultado foi a morte de 12 alunos, com idades entre 13 e 16 anos, e mais de 22 feridos. Ao ser pego pela polícia, o rapaz cometeu suicídio. 

Segundo o especialista em segurança e fundador do programa Elite – Segurança & Investigação, Lucas Munhoz, existem muitas razões para que uma pessoa cometa um crime desse porte.

“Diversos fatores podem contribuir com a decisão de um ser humano realizar uma atrocidade como a que houve em Realengo e em diversas outras escolas pelo mundo. Mas algumas observações devem ser levadas em conta, como o ambiente familiar; as provocações por parte de outros alunos com ofensas e agressões, que quando não resolvidas plenamente podem gerar futuros problemas; a saúde psicológica e social do indivíduo, ou seja, se existe algum distúrbio diagnosticado ou alguma alteração a ser observada; e as amizades, bem como a saúde psicológica desse grupo, que muitas vezes é capaz de afetar pensamentos e comportamentos dos demais envolvidos no grupo”, orienta.

Neste comportamento, o especialista alerta para alguns elementos externos, como jogos de violência, que podem interferir nas decisões.

“O nosso cérebro está registrando informações 24 horas por dia, desde o nosso nascimento. Então, tudo aquilo que é possível ver, ouvir e sentir enquanto participa-se de um jogo que ofereça atividades violentas como distração, pode, sim, ser registrado e se tornar um ponto de motivação para situações como os massacres e outros crimes em geral. Em contrapartida, não existe um consenso unânime sobre o assunto, havendo estudos em andamento sobre a influência dos jogos sobre o comportamento humano”.

Acabar com a violência, ainda mais em um país tão grande e populoso como o Brasil, é algo muito difícil, mas ainda, sim, existem possibilidades de diminuir o índice da criminalidade, como orienta Lucas.

“Para evitar tragédias como essas são necessárias diversas ações, que vão desde a educação em segurança e proteção individual dos profissionais da escola, o que possibilita a capacidade de percepção e prevenção de crimes, por exemplo, até mesmo a contratação dos serviços de segurança privada ou disposição em ter uma segurança orgânica em tempo integral no local. Vale lembrar que as alterações e adaptações podem gerar desconforto por parte dos pais e alunos”.

No caso de Realengo, o rapaz Wellington entrou nas dependências internas da escola, alegando que faria uma palestra. Com isso, perguntamos ao especialista em segurança, como deve ser a preparação dos funcionários.

“Novos procedimentos devem ser adotados e desenvolvidos para a recepção de alunos, professores, prestadores de serviço frequentes e temporários. As chamadas “zonas de segurança” também devem ser adotadas pela instituição, para que qualquer ocorrência possa ser controlada em um ambiente pré-determinado. Funcionários e professores devem estar cientes e em constante treinamento com esses novos procedimentos porque, por experiência real em campo, quando a situação está acontecendo, muitos sequer lembram do que deve ser feito e entram em total desespero”, diz Lucas. 

E ainda complementa dizendo que

“para evitar novas situações como a que já ocorreu ou piores, deve ser adotada a cultura de segurança escolar, bem como o desenvolvimento de novos procedimentos e estratégias de segurança, implantação de inspetores e a educação de segurança e proteção individual para todos os profissionais envolvidos com a escola, da portaria a diretoria”. 

Além disso, o poder público, bem como os próprios pais, são responsáveis e devem cumprir seu papel para evitar desastres como este.

“O Governo deve promover a segurança da sociedade, principalmente nas áreas comuns, como as ruas e praças, por exemplo, por meio da Polícia Militar, com as rondas escolares, justamente para desencorajar as atividades criminosas naquele perímetro. Uma vez que o cenário se repete no Brasil e em outros países, é necessário rever os procedimentos e estratégias que estão em vigor, porque é inviável tratar problemas atuais com metodologias antigas. Lembrando que mesmo se tratando de uma escola Municipal, falamos de um ambiente interno, em que medidas especiais devem ser adotadas nesse caso, e isso serve também para escolas particulares”, mostra Munhoz.

“Já os pais precisam acompanhar os jovens durante a sua evolução e crescimento. Necessidades mal atendidas ou maus tratos possuem um peso significativo para a formação psicológica e social do ser humano. A busca pela compreensão e educação sobre segurança e proteção individual também ajudará o adolescente a detectar comportamentos estranhos por parte dos amigos e ser capaz de avisar os responsáveis pelo colégio. A partir disso, pode ser realizada uma busca detalhada sobre intenções e atividades do indivíduo para tomar decisões corretas sobre determinada situação”, acrescenta. 

Por fim, Lucas instrui o caminho para que comecemos a mudar algo quando pensamos em segurança escolar.

“A detecção e prevenção de qualquer atividade criminosa, violenta ou que atente contra a preservação da integridade física, psicológica e moral dos seres humanos vai muito além de procedimentos e opiniões. É necessário realizar um diagnóstico situacional, efetuar uma análise de riscos operacional e, a partir dos resultados, desenvolver estratégias, procedimentos e protocolos para solucionar os problemas dentro das vulnerabilidades apresentadas” completa.

Além das atitudes comportamentais, com foco na proteção, novas tecnologias podem ajudar a tornar o ambiente escolar mais seguro, como o Filho sem Fila, por exemplo. Ao reduzir as filas em cerca de 70% nas escolas clientes, pais e filhos ficam menos expostos à violência urbana com essa solução. Além disso, o aplicativo possui tecnologias que possibilitam à escola ter controle total sobre quem entra e quem sai do ambiente escolar fazendo a verificação dos indivíduos e mantendo um registro atualizado, atuando de forma preventiva na tentativa de assaltos e sequestros.

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